Etnocentrismo Cultural

O etnocentrismo é uma forma de pensar os “outros” tendo o nosso próprio grupo como centro de tudo. Partindo desse princípio, todos os outros são pensados e sentidos por meio de nossos valores, nossos modelos e nossas definições do que é a existência.

Além disso, nota-se que, na medida em que esses “outros” não se encaixam em nossos valores, a tendência é rejeitá-los como inferiores primitivos, selvagens, excêntricos, etc. Em outras palavras, a sociedade do “outro” é atrasada, sendo constituída de sujeitos selvagens e bárbaros. A consequência dessa maneira de se colocar no mundo resulta em racismo e preconceito de várias ordens.

No campo das ideias, no âmbito da Filosofia, tal visão de mundo pode ser considerada como uma dificuldade para pensar a diferença. Por exemplo, podemos observar, frequentemente, que as nossas próprias atitudes frente a outros grupos sociais com os quais convivemos nas grandes cidades são, muitas vezes, repletas de vestígios de atitudes etnocêntricas.

Rotulamos e aplicamos estereótipos por meio dos quais nos guiamos para o confronto cotidiano com a diferença. Entretanto, a nossa sociedade já vem, há alguns séculos, construindo um conhecimento ou, se quisermos, uma ciência sobre a diferença entre os seres humanos.

Essa ciência chama-se Antropologia. O primeiro desses pensamentos é conhecido como Evolucionismo. A ideia principal é a de que o outro é diferente porque possui diferente grau de evolução. Lembrando que, tal termo, no seu sentido mais amplo, equivale ao desenvolvimento.

A ideia do etnocentrismo surge a partir do século XVI, em função do encontro entre os europeus e as sociedades das Américas, da África e da Ásia. Esses encontros geraram relatos de viagens, narrativas descritivas, investigações e todo tipo de documentos históricos sobre as populações nativas.

De modo geral, os cientistas dessa época partiam da ideia de progresso. Ou seja, as diferentes sociedades sempre avançavam em direção à civilização. Embora pareça justo, entendemos que tal critério é tão arbitrário como qualquer outro.

A ideia de progresso favorece as sociedades ocidentais, por colocar no ápice da evolução aquilo que elas próprias consideram mais evoluído. Afirmar que a evolução tecnológica é um parâmetro para avaliar a evolução das sociedades só poderia ocorrer em uma sociedade cuja evolução tecnológica é muito valorizada.

Ou seja, quando analisamos outras sociedades por meio de critérios próprios da nossa, estamos sendo etnocêntricos. Poderíamos, por exemplo, adotar a sustentabilidade como critério. Nesse caso, a hierarquização das sociedades seria diferente.

Desde o fim do século XIX, a própria Antropologia se dedicou a questionar os modelos evolucionistas. O principal recurso para a construção dessa crítica foi o conceito de cultura; uma espécie de combate ao etnocentrismo.

A cultura pode ser vista como uma teia, na qual o homem tece seus significados e está a eles preso e dentro deles vive. Além disso, uma das ideias mais importantes que se contrapõem ao etnocentrismo é a de relativização. Em outros termos, relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas conseguir perceber, na sua dimensão de riqueza, por ser diferença.

Relativismo cultural

Já no final do século XIX, o antropólogo alemão Franz Boas construía uma crítica à ideia de civilização das teorias evolutivas. Embora não tenha sido o primeiro a utilizar o termo cultura, esse antropólogo foi o primeiro a empregar a palavra em seu sentido moderno, propriamente antropológico. A ideia principal é que as diferentes populações que existem no mundo têm diferentes culturas, sendo praticamente impossível estabelecer entre elas qualquer tipo de hierarquia.

Esse pensador inaugurou o que mais tarde ficaria conhecido como relativismo cultural. Tal conceito pode ser compreendido como uma tomada de posição perante a diferença cultural, segundo a qual cada cultura deve ser avaliada apenas em seus próprios termos.

A partir do século XX, as teorias evolucionistas passaram a ser vistas pelos antropólogos como etnocêntricas, isto é, construídas com base em critérios válidos para quem as formulou. Nota-se que a Antropologia percorre um caminho desde parte do etnocentrismo à relativização, desacreditando no princípio da sociedade do “eu” como medida de todas as coisas.

Para finalizar este texto, podemos sublinhar que alguns autores consideram o relativismo como uma espécie de inversão do evolucionismo. Para isso, consideram que o argumento central é que o evolucionismo entende as diferenças a partir de valores específicos das sociedades ocidentais, enquanto o relativismo parte da própria sociedade da qual fazem parte para pensar as diferenças.

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Graduado em Física e Filosofia, cursou mestrado e doutorado em Física Médica Aplicada à Medicina e Biologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Instituto Federal de Brasília, Campus Ceilândia, na área de Física.

 

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A estruturação dessas soluções passa pela Tríplice Hélice da Inovação[1], um modelo teórico que propõe a colaboração entre academia, indústria e governo para impulsionar o desenvolvimento e a inovação. Essa interação permite que o conhecimento acadêmico seja aplicado na prática, promovendo políticas públicas mais embasadas e soluções urbanísticas que atendam às demandas reais da sociedade. Permite também o desenvolvimento industrial orientado.

Para que esses modelos digitais sejam efetivamente adotados, é fundamental uma agenda política focada no bem estar social e um ambiente empresarial que compreenda o impacto dessas ferramentas sobre o público.

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Referências: {1} O modelo de tripla hélice de inovação, conforme teorizado por Etzkowitz e Leydesdorff, é baseado nas interações entre os três seguintes elementos e seu ‘papel inicial’ associado: universidades engajadas na pesquisa básica, indústrias que produzem bens comerciais e governos que regulam os mercados. À medida que as interações aumentam nesse quadro, cada componente evolui para adotar algumas características da outra instituição, o que dá origem ao híbrido instituições. Existem interações bilaterais entre universidade, indústria e governo.