Disciplina Tecnologias da Informação no Espaço Arquitetônico e Urbano

“Ubiquitous Computing: computação ambiental e o sentido de lugar”

Professor Renato Cesar Ferreira de Souza

1 Introdução

O Objetivo dessa oficina é discutir como os recursos computacionais usados no projeto de lugares públicos podem ajudar a melhorar a qualidade daqueles lugares. O termo lugar refere-se a um espaço que é habitável, e o foco aqui será o lugar que é um espaço público, aberto e com problemas. O termo recursos computacionais refere-se às possibilidades trazidas pelo emprego de componentes de tecnologia da informação (TI) como por exemplo, os microprocessadores, os sensores eletrônicos, os servomecanismos e outros. Quando esses componentes estão espalhados pelo ambiente construído e estão ao mesmo tempo integrados funcionalmente com as atividades que ocorrem no lugar, eles constituem um sistema de computação ubíquo.

A palavra ubíquo pode ser compreendida como o significado vindo da junção do advérbio ubi, que em latim significa onde, e do sufixo quo, que imprime um caráter universal ao restante dos termos aos quais ele se liga. Em outras palavras, ubíquo quer dizer em todo lugar.  Portanto, um sistema de computação ubíqua é um sistema de recursos computacionais espalhados por todo lugar, utilizando objetos e espaços comuns como interfaces pelas quais os usuários acessam e interagem com a capacidade computacional.

O termo em inglês Ubiquitous Computing (Ubicomp) foi cunhado há cerca de 15 anos atrás por Mark Weiser [1], pesquisador americano do centro de pesquisa da  Xerox, na cidade de Palo Alto, Califórnia, EUA. Esse termo foi utilizado por ele para se referir a uma ampla gama de tecnologias que permitia com que a capacidade funcional dos computadores pudesse ser trazida para o mundo real, o das pessoas comuns e de suas atividades [2]. Weiser acreditava que os computadores de mesa (desktop) iriam desaparecer porque seus componentes estavam passando por uma contínua evolução, miniaturizando-se. Dessa maneira, a Tecnologia da Informação (TI) e sua capacidade computacional se tornariam entrelaçados com o dia-a-dia. Considerando assim, ubíquo não significaria simplesmente em todo lugar, mas apropriadamente poderia ser entendido como em todas as coisas.

A ideia de Weiser pode ser considerada a primeira formulação explícita e tecnicamente articulda sobre Ubicomp. Mas seria difícil contemplar com justeza a vasta quantidade de contribuições de outros autores e pesquisadores que se seguiram à idéia de Weiser. Anteriormente na década de 1970 autores como Negroponte investigaram as possibilidades de uso de TI no meio ambiente [3, 4], entendendo o processo de projeto desses ambientes como um processo cumulativo e dinâmico. Na mesma década, no MIT media lab em Massachussetts, EUA, o Professor Hiroshi Ishii [5] desenvolveu seu projeto denominado Things that think, também com o propósito de extender a capacidade computacional para os espaços diários. De fato, desde a concepção inicial formulada de Weiser houve uma proliferação de temas associados com ubiquidade computacional que torna impraticável qualquer formulação bibliográfica mais concisa. Mas esse é só um dos problemas. Uma outra grande dificuldade no estudo de Ubicomp é relativa à quantidade de termos e jargões que surgiram no campo. Adam Greenfield [5] menciona que, na época em que ele começou a escrever seu livro publicado em 2008, Everyware: the Dawning Age of Ubiquitous Computing”, a literatura sobre computação ubíqua era

uma maré diária de notícias e novas pesquisas que tornava difícil manter-se atualizado: artigos sobre vestimentas com capacidades computacionais, realidade ampliada por virtualidade, mídias dependentes da localização, monitoramento em rede dos sinais vitais humanos  por chips implantados.[1]  

Segundo ele, o campo era tão novo que a terminologia técnica e os jargões não estavam ainda estáveis. A despeito da riqueza e variedade de publicações e referências sobre o assunto, poucos autores, entretanto, de fato mencionaram o aspecto da espacialidade dos elementos de TI.

Apesar de sua ampla disseminação, a idéia inicial de Weiser não pode ser mais reconhecida hoje no largo debate que se formou em torno do assunto a respeito do espalhamento de elementos de TI no meio ambiente. Muitos exemplos de hoje são, a seu modo, expressão de tentativas para definir o processo de interação adequado num mundo onde o processamento de informação é onipresente no meio ambiente. A respeito disso, muito oportunamente Greenfield [5] sugere que se chame o assunto desse debate de “ecologia dos dispositivos e plataformas que possuem capacidade computacional”. Baseado nessa idéia, a computação ubíqua será aqui compreendida mais apropriadamente através da discussão dos princípios de uma ecologia da informação aplicada aos espaços públicos.

2 Informação,Tecnologia,

Espaço e Sociedade

2.1. O conceito de informação

O interesse por uma ecologia da informação pode tanger diversos campos de conhecimento nos quais os profissionais se interessam pela computação ubíqua, tais como engenheiros e cientistas da computação, desenhistas de softwares, mas também outros profissionais ainda,  como os geógrafos, arquitetos e planejadores urbanos. Não é difícil de imaginar que esse novo campo sofra o problema da falta de esquemas genéricos que integrem as terminologias advindas dos experimentos de cada campo profissional.De fato, o planejamento e projeto de sistemas de computação ambiental é problemático porque não oferece nem uma terminologia estável, nem teorias que permitam uma ampla abordagem multidisciplinar. Dessa maneira, buscar compor um quadro teórico que guie a criação de sistemas de Ubicomp parece uma tarefa útil ao menos para ampliar o espectro no qual diversos profissionais discutem a criação desses sistemas.

Uma idéia norteadora que poderia guiar a composição de uma teoria sobre a ecologia da informação é a de que o espalhamento dos recursos computacionais no meio ambiente, por meio da distribuição de componentes eletrônicos, pode ser útil para ajudar a preservá-lo e sustentá-lo. Assim, esses componentes estariam auxiliando o gerenciamento da informação do lugar, de modo a permitir uma maior interação entre as pessoas, as coisas, e as atividades que acontecem ali. Com isso, parece que a informação pode se ligar a posições espaciais, e seria uma tarefa de uma ecologia da informação compreender como ela se correlaciona com as propriedades topológicas dos lugares. Dito de outra maneira, as propriedades físicas e geométricas dos lugares podem ser estudadas à luz do fenômeno da informação envolvida na interação mutual entre as atividades que nele ocorrem e os seus elementos físicos. Observando como a tecnologia da informação pode conectar melhor essas atividades a seus suportes espaciais, seria possível estudar um tipo de topologia da informação então associado à topologia do lugar. Essa topologia poderia ser transladada geometricamente para a solução de problemas espaciais específicos (as soluções arquitetônicas) usando componentes de TI aplicados no espaço. Tudo agora parece levar à pergunta sobre qual a relação entre informação e espaço.

À primeira vista, conceituar o que seja informação parece ser uma atividade trivial. Entretanto, essa palavra tornou-se ao longo dos anos um termo confuso presente na coleção de múltiplos significados gerados pela aplicação de diferentes práticas (ex.: termos como “era da informação”, “sociedade da informação”, “economia da informação”). Por outro lado, em algumas circunstâncias o termo é usado muito mais  precisamente para especificar funções técnicas, estreitando sobre elas a possibilidade de sua compreensão (por exemplo, no desdobramento de conceitos como “dado”, “bit”, “emissor”, “receptor”).

O significado original da palavra informação que deriva do latim a conecta diretamente com a idéia de espaço, sugerindo a ação de moldar, manipular uma forma: informare, que significaria por em forma [6]. Wyld comenta que informar contém o sentido de “contar a alguém alguma coisa”. A palavra em inglês, information, foi cunhada no século XIV, ganhando dois significados: um conectado à idéia de comunicar a alguém alguma coisa, um evento, um fato, uma história, o outro referindo-se à idéia de armazenar dados, obtendo-se a idéia de conhecimento como informação armazenada.

Ao longo do tempo, contudo, a idéia de informação distinguiu-se de conhecimento. A diferenciação, em termos de multiplicidade é que a idéia informação supõe que ela seja fragmentada, fraturada, particular, efêmera, transitória e sem estrutura, enquanto conhecimento é estruturado, coerente, universal e duradouro. Metaforicamente, informação é comparada com partículas em movimento no espaço – por exemplo, o termo fluxo de informação usado por Castells [7] – enquanto conhecimento é comparado com um lugar, especificamente localizado e espacialmente expansivo. Essa metáfora encontra respaldo na idéia de Machlup e Mansfield [8: 642]., que comentam que “informação é um processo, conhecimento é um estado”.

Contudo, a questão sobre o que seja informação vai mais além do que simples definições de dicionários. Por exemplo, Floridi [9] advoga a existência de uma nova disciplina, denominada filosofia da informação, cuja função seria investigar criticamente a natureza conceitual e os princípios básicos da informação. Essa investigação deveria incluir as dinâmicas da informação, sua utilização pelas ciências, a elaboração e aplicação de modelos teoréticos e metodologias computacionais para problemas filosóficos. Ou seja, analisar, avaliar e explicar os vários princípios e conceitos da informação, sua dinâmica e utilidade, com especial atenção aos pontos sistemáticos e genéricos oriundos de diferentes contextos de aplicação e de interconexão com conceitos-chave na filosofia, tais como conhecimento, verdade, significado e realidade. [10].

Avançando sobre a idéia de uma filosofia da informação, Floridi observa os comentários de Aristóteles acerca do assunto, e encontra no seu livro, A Metafísica, três modos de conceituar a informação:

  • Informação como realidade, que significa a informação como presença de elementos físicos que não são nem falsos ou verdadeiros, também conhecida como informação ecológica;
  • Informação sobre a realidade, que é a informação semântica, como um ingrediente na construção do conhecimento;
  • Informação para a realidade, que significa a informação que permite a instrução e a ação orientada, como a informação genética, os algoritimos e as receitas.    

A informação como realidade pode ser entendida como a informação dada por alguém sobre a direção a seguir numa estrada. Por exemplo, alguém nos informa para virar a esquerda logo depois de passada a montanha. Já a informação semântica é dada por alguém, modificando a realidade, como por exemplo, esse alguém nos informa que a montanha em questão é considerada sagrada por uma tribo indígena local. Finalmente, a informação para a realidade pode ser um mapa de um tesouro, que ajudaria a recriar os passos de quem o ocultou, próximo a tal montanha.

O modo concreto pelo qual o espaço mesmo toma parte no processo de interferir e apoiar as atividades – modificando e sendo modificado por elas – será considerado aqui informação. Essa interferência mútua entre espaço e atividades será vista como uma onda de distúrbios através dos quais espaço e as atividades mutualmente se influenciam. Pela sua característica, essa interferência será entendida como conflito entre forma física e atividade, cuja solução expressa a organização comunicacional do meio ambiente, refletindo na estrutura linguística das pessoas do lugar.      

2.2. A desmaterialização

Depois da segunda guerra, informação tornou-se um termo-chave para diversos campos, tais como a biologia, a ciência cognitiva, a ciência da informação, a ciência da computação, a psicologia, a física, a economia, dentre outras [11]. Novas disciplinas emergiram com o conceito de informação, tais como a teoria da comunicação, desenvolvida por Shanon e Weaver em 1949 [12], a teoria geral dos sistemas desenvolvida por Bertalanffy em 1968[13], a cibernética[14]. Têm-se por certo que a primeira vez que uma ciência se desenvolveu ao redor dda idéia de informação foi através da disciplina de lógica simbólica na década de 1930 [11]. Lógica no caso dessa disciplina, era reorientada longe das preocupações com a representação material da realidade buscando abordar puramente o critério formal (a essência) e suas regras, permitindo assim a conceitualização de uma ampla variedade de áreas intelectuais, desde a matemática até às ciências sociais e a política [15].

Ao final da década de 1930, Claude Shannon viu que os princípios da lógica (em termos de proposições verdadeiras ou falsas) poderia ser usado para descrever dois estados  (ligado e desligado) de interruptores eletromecânicos. Ele sugeriu que circuitos eletrônicos pudessem incorporar as operações fundamentais da matemática, e na década seguinte, junto com Weaver, foi além ao trabalhar sobre o problema de engenharia da transmissão de sinais, desenvolvendo a teoria da informação (ou teoria da comunicação) [12]. Nessa teoria, ele apresentou o conceito chave de que a informação pode ser pensada como totalmente divorciada do conteúdo específico da mensagem, e pode ser simplesmente definida como uma decisão única a ser tomada frente a duas possíveis alternativas. Por essa razão, a unidade básica da informação para Shannon foi designada bit, um pedaço. 

Dentro da teoria de Shannon sobre informação está uma idéia mecanicista, que se trata de um caminho estratégico para pensar analogicamente que informação é alguma coisa que é carregada de um emissor até um receptor através de um meio. Essa estratégia permite separar  analiticamente os elementos desse sistema, definindo binários e permitindo o estudo de probabilidades relacionada a esses elementos. Contudo, esse modelo não se interessa pela utilidade, relevância, significado, interpretação ou referência de dados, mas no nível de detalhe e frequência de dados brutos (não interpretados, sinais ou mensagens). Essa analogia levou ao desenvolvimento de uma teoria matemática de sucesso, uma vez que se preocupou mais com aspectos quantitativos do que qualitativos, ignorando o valor da informação transmitido.

Desde que Shannon desenvolveu sua teoria, informação passou a ser concebida em diversos outros campos como pedaços discretos, fisicamente descontextualizados, fluido e móvel.

Essa idéia mecanicista da informação floresceu em diversos campos logo após Shannon. Na década de 1950, informação tornou-se identificada com os segredos da vida, associada aos estudos sobre as funções cerebrais e ao código genético. Na década de 1970, informação alcançou um status ainda maior, tornando-se uma commodity no mundo dos negócios [16], debatendo-se seu valor sua distribuição e as implicações de sua propriedade ser pública ou particular [17].

Como um modelo abstrato de pensar, o modelo criado por Shannon foi bem influente em diversas áreas. Entretanto, um de seus sintomas mais comuns causado pela supersimplificação da realidade é a idéia mecanicista que permite que a informação seja estudada de modo dissociado do seu contexto. Observando sob um ponto de vista sociológico, essa supersimplificação refletiu-se na dissociação entre informação, espaço e as atividades humanas, ou seja, na diversidade que é entendida como importante para representar a sociedade no seu sentido mais amplo. Cabe agora indagar qual a relação da informação com esses aspectos humanos.     

2.3. Aspectos sociológicos e científicos

Ilharco [18] menciona que a informação vem sendo estudada de diferentes perspectivas teóricas que se baseiam em diferentes hipóteses, tornando-se uma definição universal do termo impossível. Entretanto, uma tentativa de classificar a diversidade de conceitos abrigados pela idéia de informação pode ser vista num estudo de Burrell and Morgan’s [19] para analisar a relação entre informação, dinâmica social e natureza das ciências:


 

Ilharco [18] defende que informação seja uma idéia que emerge de uma diversidade de noções, conceitos ou objetos, dependendo como ela é estudada, de acordo com os paradigmas teóricos da Figura 1.

Em consideração à uma acepção da natureza da ciência de maneira subjetiva, ocorre um ponto de vista racionalista onde o fenômeno da informação está relacionado ao significado e à emancipação social. No paradigma da Interpretação, informação seria um fenômeno hermenêutico dependente do sujeito que interpreta, portanto suportada pela consciência individual desse sujeito, que experimenta o mundo desde seu ponto de vista. Como autores com essa abordagem, Ilharco [18] sugere Introna, Boland, Daft and Weick.  

O paradigma do humanismo radical  assume que informação é emancipação, compartilhando a noção de que seja também significado, mas considerando que essa interpretação se dê num contexto dinâmico do processo social. Autores que normalmente usam esse ponto de visa são Feenberg, Hirschheim & Klein, Habbermas, Husserl, Iacono & Markus e Bjorn-Andersen.

Observando desde um ponto de vista da natureza objetiva da ciência, o que implica numa associação com a concepção empirista, informação é um objeto, cujas transformações requerem poder. Assim, no paradigma do estruturalismo radical, o foco situa-se nas relações materiais: quem domina, quem é dominado, e como se dá a sinergia entre eles. Foucault, Callon, Zuboff and Law sâo alguns autores que tratam a informação desde esse ponto de vista.

Para o paradigma funcionalista, informação é um objeto. Dessa maneira, apesar de ser concreta o suficiente para ser estudada quantitativamente, a informação padece, como foi visto, com uma abstração supersimplificadora, como ocorre na teoria de Shannon [12].  

 

2.4. Tecnologia e vida social

Tratando da complexidade através da qual a tecnologia e a vida social se interrelacionam, um ponto de vista diferente acerca do que seja informação foi desenvolvido por Arnold [20] no seu estudo sobre os paradoxos e contradições  inerentes às conquistas através da TI. Ele trata de observar categorias dentro das quais alguns pesquisadores e autores tendem a se expressar, em se tratando de relacionar sociedade e tecnologia através das inovações alcançadas pela TI. Ele classifica essas categorias em 5:

a) Uma visão substantiva da relação entre TI e sociedade, que se baseia na lógica modernista que conecta casualmente a essência da tecnologia a um conhecido ou esperado impacto social (ou condição social). Nessa visão, a tecnologia exerce uma força sobre a natureza e sobre a condição humana, as quais poderá controlar. O poder da tecnologia está na sua habilidade de afetar o modelo e a expressão do desejo humano, e esse modelo é baseado no conhecimento e na exploração das leis do universo, como se revela nas ciências modernistas da física, química, biologia, matemática, e as demais disciplinas relacionadas àquelas ciências. Um exemplo de uma visão substantiva da relação entre tecnologia e sociedade considerado por Arnold [20: 236] é o ponto de vista do filósofo alemão Heidegger sobre a ciência, para quem a humanidade só se tornou o que é porque os seres humanos apreenderam e ainda constroem o seu mundo emoldurados pelo contexto da tecnologia em desenvolvimento. Para Heidegger, a tecnologia não poderia ser jamais erradicada se a humanidade assim o quisesse porque exatamente ela, a tecnologia, é parte do modo de ser humano no mundo. Assim sendo, Heidegger conclui que o pemnsamento meditativo, mais que o pensamento calculista é a atitude para qual a tecnologia se reconcilia com a humanidade:

“nós deixamos os dispositivos tecnológicos invadirem nossas lides diárias, mas ao mesmo tempo nós os deixamos fora, quer dizer, como coisas que não são absolutas mas dependem de alguma coisa de maior importância. Eu chamaria esse tipo de relação que se conecta e não conecta ao mesmo tempo com as coisas como um abandono das coisas”. [2]

b) Uma perspectiva determinista sobre a relação da tecnologia e a sociedade, na qual tecnologias específicas como a TI irão determinar diferentes condições sociais e irão conduzir a mudanças sociais específicas, revoluções ou a novas eras. Essa visão é supersimplificadora pois exclui as contradições inerentes à condição humana uma vez que a tecnologia é encarada como independente do contexto social. Essa visão é também derivada da moderna epistemologia que alicerça a ciência moderna, que precisa, para existir, de criar três partições vitais: a separação entre tempo e espaço (privilegiando o tempo), sujeito e objeto (privilegiando o sujeito) e entre causa e efeito (privilegiando a causa). Observando como a informaçlão se vincula a esse ponto de vista, Arnold comenta:

Tendo feito mudanças cruciais para separar sociedade da tecnologia e purificar a essência de cada um desses termos, tornou-se possível associar por equivalência  a tecnologia com a idéia de causa, e a  sociedade com a idéia de efeito. Assim, os avanços no campo tecnologico puderam ser narrados como causa para verdadeiras revoluções, inspirando idéias e livros tais como  a aldeia global de McLuhan (1960-1964), a teoria da sociedade da informação de Daniel Bell (1960-1990), o homem unidimensional de Marcuse (1964), A terceira onda de Alvin Tofler (1980), a Cidade dos Bits de Willian J. Mitchell (1995), a Second Media Age de Mark Poster (1995), e assim por diante. [20: 238] .

c) Um outro ponto de vista observa o que Arnold [20] denominou a Construção Social da Tecnologia. Para essa perspectiva, a sociedade e seus imperativos são tomados como anteriores à tecnologia que emerge deles. Tal como a visão determinista, essa tendência também opera através do pensamento modernista, e usa a mesma lógica determinista, indo linearmente da causa social às consequências tecnológicas. Igualmente, sociedade e tecnologia são arbitrariamente separadas, estabelecendo-se a posteriori suas conexões, com o privilégio da sociedade como determinante das revoluções tecnológicas.

d) Uma outra visão da relação entre tecnologia e sociedade utiliza analogias com as redes de trabalho.Diferentemente das duas anteriores, tecnologia é simultaneamente causa e consequência, bem como o aspecto social. Derrubando o ponto de vista modernista que separa as definições de sociedade e tecnologia, a noção de rede estabelece o conceito de ator. Um ator pode corresponder por assim dizer a um conjunto interatuante de coisas, atividades e pessoas, e o importante na sua avaliação é sua performance. Dessa maneira, aparecem no racicínio híbridos de pessoas/objetos/situações interconectados ao restante do universo analisado. Essa interpretação permite que paradoxos e contradições sejam interpretados numa ótica coerente.

e) Arnold [20] também menciona uma mistura de causas e consequências numa mistura de tecnologia e sociedade, sob o enfoque da fenomenologia. Ele menciona, por exemplo, o ponto de vista de Ihde [22], que observa que a relação entre sociedade e tecnologia contém um raciocínio onde existe o que ele chamou de fenômeno da co-ocorrência de redução e amplificação. Uma ampliada capacidade de engajamento com o mundo em termos de sua tecnologia é acompanhada por uma redução da capacidade de engajamento com essa mesma realidade através de diferentes meios. Assim, o olhar através de um microscópio, que amplia uma realidade, promove, pelas peculiaridades da técnica, o des-engajamento com a percepção da sala onde está o microscópio.         

Portanto, buscando verificar qual o operador de sentido para o termo informação, a idéia de sociedade e tecnologia são relacionados, segundo Arnold [20] através de pontos de vistas que ele denominou como  substrantivo, determinista, Construção Social, em redes de trabalho e aproximações fenomenológicas.

2.5. Realidade, virtualidade e suas combinações

Um outro autor que analisa as implicações espaciais da TI é Graham [23], que identifica três perspectivas dominantes facilmente identificáveis na literatura especializada ao longo dos anos da década de 1990. Ele comenta sobre uma primeira visão voltada para a substituição e transcendência do físico pelo virtual, uma segunda perspectiva que encara um processo co-evolucionário da realidade e a virtualidade gerada pela TI, e finalmente uma terceira visão onde a recombinação de real e virtual ocorre através das relações estabelecidas por atores conectados em rede. 

Os autores com características tais como a da primeira dessas visões alegará que a evolução técnica causará a substituição e transcendência do mundo físico e isso ocorrerá pela disseminação do uso de espaços virtuais, que irão por sua vez substituir a dinâmica dos espaços reais para a vida humana. Os autores que advogam uma visão como a da segunda perspectiva, enxergam que ambos, espaços virtuais e reais, evoluem se implicando um ao outro, como resultado do processo de reestruturação do sistema político-econômico capitalista. Já os autores que se identificam com a terceira visão mencionada, mencionarâo que realidade e virtualidade irâo se recombinar, sendo que a TI auxiliará na dinâmica de composição de atores conectados, compondo conjuntos de espaço e tempo em acordo com a vida social. Uma análise dessas três perspectivas permite ver com maior precisão como a informação e o espaço estariam se relacionando.

Na perspectiva de substituição e transcendência, a tecnologia é vista como um agente independente de mudança, separado do mundo social mas com poderes para criar impacto sobre ele, através de algum tipo previsível de revolução universal ou onda de mudanças. TI é encarada como a causa dessa revolução, de modo linear, uma vez que os recursos de TI estarão acessíveis em todos os lugares, a qualquer hora. Assim, o mundo inteiro estará conectado através de redes, e a distância física e as limitações culturais irão desaparecer. Consequentemente, a dispersão geográfica das regiões metropolitanas acontecerá, e contribuirá para a dissolução da cidade. Como a vida e os fluxos dos centros urbanos serão substituídos gradualmente por alguma técnica de comunicação universalizada e interativa, os grandes núcleos urbanos se tornarão um anacronismo. A convergência das tecnologias da realidade virtual, associada com poderosas redes de interação, transformarão todas as relações onde outrora o espaço era uma limitação básica. Tecnologias de imersão criarão cidades inteiras sem necessidade de espaço físico, e a construção de ambientes tridimensionais flexivelmente acessíveis de qualquer lugar a qualquer momento acabará substituindo o espaço real. Em conclusão, as sociedades humanas, as culturas, as economias migrarão para dentro desses ambiente eletrônicos, onde a construção flexível de identidades será possível, com o acesso de todos os serviços de qualquer lugar, a qualquer tempo, compartilhando um mundo de fantasia sem fim. Para esse ponto de vista, as idéias sobre a materialidade, o espaço, o tempo, o corpo e o lugar são uma enorme irrelevância.

Já para o ponto de vista co-evolucionário, as interações baseadas nos lugares irão compor complexas articulações entre o espaço físico e a vida social. Através de uma mesma e ampla tendência social, a produção de espaços e redes eletrônicas irá se desenvolver a par e passo com a produção dos espaços e lugares materiais.  Dentro dessa visão, três tendências são facilmente identificáveis nos autores que escrevem sobre TI: na primeira, o espaço físico é considerado importante para contextualizar o projeto (design) de aplicações de novas tecnologias. Na segunda, considerando a escala da cidade, TI poderá articular as representações eletrônicas do espaço e da mobilidade (fluxos) para alimentar o banco de dados em auxílio ao projeto de desenvolvimento de uma cena urbana em particular. As representações eletrônicas da cidade, por exemplo, ajudam a fundamentar e integrar as atividades que ocorrem em uma região urbana, permitindo visualizar uma certa coerência e legibilidade ao que seria, de outra forma, uma caótica expressão entre internet e espaço urbano. Nessa mesma senda, o fluxo de informação através das interações em rede, que representam e articulam espaços e lugares, ajudariam a dar suporte à mobilidade física, ao turísmo, ao transporte, e outras demandas. Na terceira visão dentro do ponto de vista co-evolucionário, o processo de renovação urbana seria amparado por uma perpétua análise de seus fluxos de troca, representados dentro dos espaços eletrônicos. Resumindo, para o ponto de vista co-evolucionário, o espaço material e o espaço eletrônico são recursivamente atuantes, moldando um ao outro. Nessa visão, a construção social da tecnologia é descrita de um modo relacional bastante estável. Mas a terceira e última visão irá mais além, ressaltando a importância dessa construção.

Na perspectiva da recombinação há uma contínua e dinâmica recombinação do mundo,  considerado agora como as conexôes tecnológicas entre seus elementos. Pessoas, coisas e suas representações recebem distintos significados de acordo com a conexão momentânea que estabelecem entre si, dentro das cenas sociais. Consequentemente, espaços físicos e virtuais não são mais estáticos e invariáveis, como coisas externas, mas temporários e  sobrepostos “em camadas” (layered) de significação dada pelo movimento perpétuo de constituição de significados pelo rearranjo das coisas. Consequentemente, essa representação dinâmica e mutante do espaço e do tempo permitirá a criação, dentro da vida social, de diferentes espaços e tempos, com diversas formas de interação humana, controle e organização. O conceito de lugar se torna um processo embutido e heterogêneo de criação de espaço e tempo: vizinhanças, cidades e regiões não poderão ser estudadas independentemente do seu raio espaço temporal dado por essa construção tecno-social. Respectivamente, uma imensa variedade de representações eletrônicas desses diversos espaços e tempos criarão diversos “cyberspaces”, e não somente um único “cyberspace”. Esses cyberspaces seriam, nesse sentido, uma fragmentada, dividida, e heterogênea multiplicidade de infraestruturas e atores humanos, agindo como redes tecno-sociais, representando geografias deampliação ou redução, conectando o local e o não local através de íntimas, relacionais e recíprocas conexões.       

2.6. Um outro paradigma para a informação

Sumarizando o conteúdo visto até aqui, primeiramente o significado do termo informação foi examinado, verificando-se que ele sofreu um processo de desmaterialização a medida em que, após a segunda guerra, passou a abranger diversos campos do conhecimento, diversas tecnologias e contextos sócio-culturais. Num esforço de entender o tipo de ciências onde o conceito de informação está envolvido e o contexto social, foi visto que informação pode ser considerada desde a emancipação de um poder político, passando por ser considerada desde simples significado até a sua funcionalização como um objeto. Para analisar como a tecnologia da informação age sobre a sociedade, analisou-se como informação e tecnologia podem ser associados. Foi visto que a TI as vezes é considerada uma força que pode moldar e transformar a sociedade, ou que ambas, tecnologia e sociedade exercem mutuais transformações. Uma outra visão ainda considera muitas contradições nesse proceso, compreendendo-o através de novos paradigmas filosóficos.   

Tradição Mecanicista.

O modelo que apoia o entendimento do que seja informação e o processo de comunicação está baseado na fórmula fonte-mensagem-canal-receptor. Todos os modelos nas outras ciências que derivaram desse modelo encararam comunicação como um problema de transmissão da informação, e todas as distinções que esse modelo pôde oferecer (do tipo “emissor”, “codificador”, “receptor”, “canal”, e “mensagem”) foram razoáveis para explicar, descrever e prescrrever uma parte do fenomeno comunicacional. Entretanto, esse modelo é chamado de modelo mecanicista, em referência ao “mecanicismo” que, na filosofia, foi uma doutrina que encarava o mundo real como tendo estrutura e finalidades que permitiam analisá-lo como uma máquina e a partir de modelos mecânicos. A visão mecanicista é parte de uma longa tradição da cultura ocidental, e sua tradição serve como base para o senso comum, no entendimento da linguagem, do pensamento, e da razão. Mas com o aumento da  complexidade das ciências, a visão mecanicista mostrou que tem limites para explicar a realidade, sendo na verdade um modelo supersimplificado da realidade. Na comunicação, a metáfora do tubo condutor não ajuda em muito o entendimento da comunicação humana. As pessoas, de fato, requerem tipos de relações muito mais complexas no proceso de se comunicarem, criando toda sorte de contextos e fazendo depender os significados desses contextos. Os significados podem variar dependendo das relações do emissor e receptor, suas intenções e a histõria prévia de ambos.

A principal crítica a esse modelo mecanicista é que todos os aspectos relacionados à dinâmica da realidade não podem ser representados por ele. Entre outras coisas, será impossível estudar assuntos relacionados à linguagem e à cognição, ou entender como o processo de simbolização vem consubstanciar o conhecimento. Da mesma forma, a relação entre informação e espaço, através desse modelo mecanicista, somente se estabelecerá com representações que estejam inseridas dentro da cultura, numa segunda fase, onde o conteúdo da mensagem seja interpretado.

A adoção desse modelo não oferece elementos para explicar como informação e o lugar se relaciionam, através de elementos  concretos do lugar. Não se trata de fazer um estudo de base semiótica dos elementos do lugar. Um elemento espacial, pela semiótica, seria considerado uma conjugação de um significando e um significado, dentro de um repertório cultural. Essa correspondência é estabelecida a partir de um acordo social, um fundo ideológico de suporte a todas as representações coletivas, incluindo o espaço e seus significados. Entretanto, a semiologia não explicará as relações naturais e motivadas que primeiramente estabelecem os símbolos, não indo além de explicações imediatas para esse fenômeno. O que estamos buscando como definição de “informação” e como sua relação com o espaço é um ponto de vista mais geral, que em primeira instância funde um cenário onde a cultura, entendida como uma cooperação coletiva, escolha posteriormente seus elementos.    

Terry Winograd and Fernando Flores [24] desenvolveram um trabalho onde buscaram novos paradigmas para entender a informação. Foi no trabalho do neurobiólogo chileno Humberto Maturana que aqueles autores encontraram um novo conceito da informação, visando completar o que o modelo mecanicista não permitia estudar.  A visão de Maturana, estudando temas como hermenêutica, ontologia e cognição, introduz insights que podem ser úteis no estudo da Ubicomp.

De acordo com maturana, [25] os sistemas vivos são abertos para trocas de matéria e energia, mas ao mesmo tempo, eles são operacionalmente fechados – isto é, fechados para a informação ou qualquer sistema de controle ou instrução. Eles se mantêm de acordo com suas próprias regras mas ao mesmo tempo são absolutamente dependentes da sua conexão com o meio onde estão, que é de onde retiram a fonte material para sobreviverem. Eles possuem uma maleabilidade estrutural, chamada plasticidade, que é a extensão e limite no qual eles conseguem adaptar-se para sobreviver aos distúrbios ambientais. A sobrevivência dependerá então de sua estrutura interna, como por exemplo sua capacidade de se comportar adequadamente quando um distúrbio ambiental ocorre. Esses novos comportamentos, originados de uma plasticidade, são novos estados que irão compor uma história da adaptação de sua estrutura em novos padrões.

O conceito de informação adotado por Maturana para explicar as relações entre seres vivos e seu meio ambiente é diferente daquele que vê informação como alguma coisa que carrega representações simbólicas do mundo transmitidas de um emissor a um receptor. Diferentemente, informação é considerada como todas os modos de distúrbios através dos quais os sistemas coordenam seus comportamenbtos finais no sentido de geral ações consensuais e cooperativas para auxiliá-los. Nesse sentido, informação sobre o meio ambiente equivale ao nível de distúrbios ambientais que ativam modificações estruturais plásticas nos sistemas vivos, resultando em novos estados de harmonia com o meio [26].

Os sistemas vivos capazes de alguma flexibilidade estrutural são aqueles capazes de gerar comunicação. Comunicação, dessa maneira, é uma coordenação de comportamentos ou seu mútuo acionamento entre os membros de uma unidade social. Trata-se de um sistema de dois caminhos, no qual cada lado, quando afetado pelo distúrbio causado pelo outro, modifica a si mesmo em relação ao outro visando reorientar seu comportamento. Esse proceso comunicacional dependerá, portanto, da determinada, maleável e fechada organização dos sistemas vivos, e pode ser instintivo (filogênico, dado pela estrutura) ou aprendido (ontogênico, dado pela história das adaptações estruturais do sistema de acordo com sua maleabilidade). Os comportamentos que são mantidos através das gerações podem ser chamados de comportamentos linguísticos. Juntos, os diversos comportamentos linguísticos constituem o domínio linguístico de uma unidade social. Ou seja, o comportamento linguístico é a habilidade de um sistema plásticamente coordenar a si mesmo visando cooperar com outros sistemas e assim lidar com os distúrbios que vem de fora de si.

Se o meio ambiente pode ser considerado como um sistema estruturalmente plástico, então ambos, sistema vivo e meio ambiente, se dirão reciprocamente acoplados através da seleção mútua das mudanças estruturais durante a história de sua interação [26]. Nesses casos, as mudanças estruturais de um sistema se transforma em distúrbio para o outro e vice-versa, de modo que se estabelece uma trajetória interativa fechada aos dois, ao mesmo tempo em que ambos operam independentemente e mantêm sua estrutura determina.

Nesse sentido, adaptação é uma expressão do acoplamento plástico do sistema vivo ao meio. A adaptação sempre é resultado de sequências de interação de um sistema com seu meio, sequências nas quais o distúrbio dispara na estrutura plástica do sistema uma série de mudanças de estado até que em um dado momento ele corresponderá à estrutura do meio ou desintegrará. Como resultado dessa adaptação, quando ela ocorre,a história do sistema vivo e do meio ambiente incorporarão os resultados dessas transformações, significando dizer que também o meio é transformado interativamente nesse processo de sucessivos distúrbios.

Na luz desses conceitos, é possível analisar a informação como aquelas pertubações que acionam as mudanças estruturais nos sistemas vivos e no meio ambiente, recursivamente. Quando os sistemas e seu meio são coordenados em mutual cooperação para alcançar um novo estado de equilíbrio, eles provocam mudanças (chamadas de “comportamento” quando vistas por um observador externo) em suas estruturas e este processo constitue um comportamento linguístico. Para um observador externo as mudanças no meio ambiente serão tratadas como um resultado de um comportamento linguístico, e será possivel distinguir esse universo de distúrbios como um domínio linguístico.

Por esses últimos conceitos, pode ser dito que o domínio linguístico de um sistema é o universo das interações que se originam dos distúrbios ocasionados por outros sistemas e pelo meio. Assim, é possível inferir que o estado atual e a história das transformações plásticas dosistema constituirão seu domínio linguístico. Portanto, a habilidade que um sistema vivo tem de modificar seu meio ambiente para sobreviver pode ser encarada como um tipo particular de comportamento comunicativo, especificado através de interações espaciais. Se o meio ambiente pode ser encarado como um sistema que pode afetar os sistemas vivos que o habitam, o mesmo pode ser dito sobre ele, ou seja, as suas mudanças espaciais resultantes dos distúrbios são um processo particular de comunicação. Assim, é possível caracterizar uma provável função da informação como sendo a de causar mudanças espaciais nas interações do meio  ambiente com os sistemas que nele habitam e vice versa. Ao mesmo tempo, então, o meio ambiente é um meio para a comunicação mas é também modificado pelos distúrbios. Isso não significa que o espaço carrega ou contém informação, mas que o espaço é, ele mesmo, a informação. Assim, espaço e habitantes são mutuamente interferentes e recursivamente modificam-se criando um domínio linguístico.

Ampliando-se a análise de Maturana, pode ser dito que a dinâmica desse processo comunicacional ocorre no comportamento espacial humano, onde o meio ambiente é modificado e modifica os habitantes. Esse comportamento humano inclui as habilidades de criar equipamentos através da transformação de materiais para lidar com os distúrbios ambientais e sobreviver. Dessa forma, a habilidade humana de fazer seus equipamentos e instrumentos para transformar o meio ambiente resulta da habilidade de reagir a esse meio ambiente, criando um domínio de ações mútuas e coordenadas que compreende o fenômeno da comunicação. Das simples interações com o espaço até ao desenvolvimento de uma linguagem, o lugar e seus habitantes pode ser estudado através de seus elementos concretos como um fenômeno comunicacional onde a informação é mesmo o espaço. Ou seja, o espaço é um domínio linguístico, que compreende a idéia de informação como seus elementos, e ao mesmo tempo uma concreta organização espacial do ambiente.                  

Referências

  1. Weiser, M., Ubiquitous Computing, in Nikkei Electronics Magazine. 1993, Nikkei Electronics. p. 137-143.
  2. Shafer, S.A.N., Ubiquitous Computing and the EasyLiving Project. 2000, Ubiquitous Computing Group, Microsoft Research: Redmond WA 98052 USA.
  3. Negroponte, N., Soft Architecture Machines. 1975, London: Cambridge, Mass.; London: M.I.T. Press.
  4. Negroponte, N., Being Digital. 1995, London: London : Hodder & Stoughton.
  5. Greenfield, A., Everyware: The dawing age of ubiquitous computing. 2006, Berkeley: New Riders.
  6. Wyld, H.C., The Universal Dictionary of The English Language. 1959, London: The Waverley Book Company Ltd.
  7. Castells, M., The rise of the network society. 2nd ed. 2000, Oxford: Blackwell Publishers. xxix, 594.
  8. Machlup, F.a.M., U, The study of information: Interdisciplinary Messages, ed. J.W. Sons. 1983, New York.
  9. Floridi, L., What is Philosophy of Information, in Metaphilosophy. 2002, Blackwell. p. 123-145.
  10. Floridi, L., Information, in Philosophy of Computing and Information B.G.t.t.P.o.C.a. Information, Editor. 2004, Blackwell: New York.
  11. Feenberg, A., Critical Theory of Technology. 1991, New Yok, Oxford: Oxford University Press.
  12. Shannon, C.a.W., Waren, The Mathematical Theory Of Communication. 1949, Urbana: University of Illinois Press.
  13. Bertalanffy, L.v., General system theory : foundations, development, applications ed. e.L.v. Bertalanffy. 1968, New York: G. Braziller.
  14. Weiner, N., Cybernetics, or Control and Communication in Animal and Machine. 1961, Cambridge, MA: MIT press.
  15. Pylyshyn, Z.W., Information science, its roots and relations as viewed from the  perspective of cognitive science., in The study of information: Interdisciplinary Messages, F.M.U. Mansfield, Editor. 1983, John Wiley & Sons.: New York.
  1. Roszak, T., The Cult of Information. 1986, New York: Pantheon.
  2. Morris-Suzuki, T., Robots and Capitalism, in Cutting edge: Technology, information capitalism and social revolution, e.a. J. Davis, Editor. 1997, Verso: London. p. 13-28.
  3. Ilharco, F.A.M., Information Technology as Ontology: A Phenomenological Investigation into Information Technology and Strategy In-the-World, in Department of Information Systems. 2002, London School of Economics and Political Science: London. p. 370.
  4. Burrell, G.a.M., G., Sociological Paradigms and Organizational Analysis. 1979, Portsmouth, New Hampshire: Heinemann.
  5. Arnold, M., On the Phenomenology of Technology: the “Janus-faces” of mobile phones, in Information and Organization. 2003. p. 231-256.
  6. Heidegger, M., Discourse on Thinking. 1969, New York: Harper & Row.
  7. Ihde, D. Technology and the Lifeworld: From garden to earth. Stanford Encyclopedia of Philosophy [website] 1990 [cited 2006 January 18]; Available from: http://plato.stanford.edu/entries/ethics-it-phenomenology/#1.
  8. Graham, S., The end of geography or the explosion of place? Conceptualizing space, place and information technology, in Progress in Human Geography. 1998. p. 165-185.
  9. Winograd, T.a.F., Fernando, Understanding Computers and Cognition: A New Foundation for Design. 1988, New York: Addison-Wesley Publising Company.
  10. Maturana, H., Autopoiesis and Cognition: The realization of the Living. 1980, Boston: Reidel Publishing Co.
  11. Maturana, H., Biology of Language: The Epistemology of Reality, in Psychology and Biology of Language and Thought: Essays in Honor of Eric Lenneberg, G.A. Miller, and Elizabeth Lenneberg, Editor. 1978, Academic Press: New York. p. 27-63.

[1]a daily tide of press releases and new papers that was difficult to stay on top of: papers on wearable computing, augmented reality, locative media, near-field communication, body-area networking” 5.              Greenfield, A., Everyware: The dawing age of ubiquitous computing. 2006, Berkeley: New Riders. Tradução minha.

[2] “We let technical devices enter our daily life, and at the same time leave them outside, that is, let them alone, as things which are nothing absolute but remain dependent upon something higher. I would call this comportment towards technology which expresses ‘yes’ and at the same time ‘no’ by an old word, releasement towards things.” 21.      Heidegger, M., Discourse on Thinking. 1969, New York: Harper & Row. Tradução minha.