Disciplina Tecnologias da Informação no Espaço Arquitetônico e Urbano

Dados da Turma
2022/145
090220 – EA – ARQUITETURA E URBANISMO/MD
DIP  PRJ826 – TECNOLOGIAS DE INF. NO ESP. ARQ. E URB.
Com o aumento populacional e consequente crescimentos dos complexos urbanos, um dos problemas que emergem é a incorporação da Tecnologia da Informação (TI), na concepção, representação, projeto, apropriação e gestão eficiente dos espaços, considerando sua extensa variedade e diversidade. Objetiva-se desenvolver pesquisas (de metodologias ou tecnologias) que contemplem essa temática, numa visão transversal dos campos de conhecimento que nela interagem. Os tópicos de interesse são: a TI aplicada ao espaço arquitetônico e urbano, com ênfase no desenvolvimento de sistemas computacionais úteis para a cidade (GIS, Análise sintática e outras métricas urbanas); inovação tecnológica na acessibilidade urbana e no desenho universal para a cidade; a TI em suporte à saúde dos assentamentos humanos.

14 — (será substituída)
21 Feriado
28 Apresentação
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05  Informação, Tecnologia, Espaço e Sociedade
12   Informação, Tecnologia, Espaço e Sociedade
19  Equipamentabilidade / O Lugar
26 Componentes digitais
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02 Aplicações
09 Aplicações

Equipamentabilidade /O lugar

Souza, R. C. F.

 

Na experiência individual e subjetiva pode-se observar que em determinadas circunstâncias ocorre a noção de que alguns espaços são habitáveis tal como a casa. Popularmente essa noção é utilizada quando alguém se expressa dizendo que “se sente em casa” estando no trabalho, em um restaurante com amigos, ou em espaços mais públicos como um determinado trecho de rua, uma praça ou um parque.

 

Para DaMatta[27], os conceitos de “casa” e “rua” são categorias sociológicas e a casa tanto pode definir o espaço íntimo e privativo de um quarto quanto um espaço social máximo e absolutamente público, como ocorre quando nos referimos ao Brasil como nossa “casa”[1]. Esses significados são de ordem sociológica e desde esta perspectiva, tomando o contexto do centro da cidade, uma pessoa pode se referir ao seu bairro, com todas suas ruas praças e jardins, como sua “casa”.  Esse tipo de abordagem, através da antropologia social, parece ter orientações e ênfases próprias, distintas da arquitetura, revelando muito pouco sobre o significado arquitetural daqueles espaços. Assim, quando alguém diz que “se sente em casa” estando na rua, compreende-se aqui que essa pessoa expressa uma sensação que possui semelhante à experiência de estar em sua própria casa, e isso quer dizer que ela se sente habitando aquele lugar.

 

Segundo Heidegger [28] os abrigos para a permanência temporária das pessoas podem fazer com que elas se sintam em casa. Mas ele argumenta que se habitar fosse ter um abrigo temporariamente no interior das construções então poderia ser dito simplesmente que ora o homem habita, ora não, conforme esteja alojado ou não em algum espaço bem definido. O habitar se realiza como o alojamento nos espaços e não se tem a compreensão do porquê as pessoas diferenciam qualitativamente aquelas experiências nas quais se sentem em casa daquelas em que se sentem estrangeiras, estando fora da moradia. Heidegger considerou e observou também que mesmo não sendo todos os espaços feitos como se fossem uma casa, as construções tais como as pontes, os estádios, os estacionamentos e as rodovias estão na esfera da vivência, e essa vivência, conforme cada situação, confere a eles a qualidade de um lugar habitável. Esta dimensão da vivência ultrapassa as construções mesmas, fazendo com que o significado da habitação não se limite só à casa como seu único lugar. Um caminhoneiro, exemplifica ele, sente-se em casa dentro da cabine  de seu caminhão, trafegando numa rodovia, mas não mora ali, dentro da cabine. A idéia da habitação como simples alojamento faz com que o significado de construir se transforme em uma simples atitude de prover abrigo contra o tempo, sem esclarecer quaisquer aspectos qualitativos dos significados de habitar e construir, pois “não habitamos porque construímos, mas construímos e temos construído porque habitamos, isto é, enquanto somos habitantes[2] [28]. Ou seja, o significado do fenômeno do habitar se realiza com anterioridade à ação de construir.

 

O esforço de Heidegger é o fazer compreender de que o homem e seu meio ambiente são existencialmente inseparáveis e que o entendimento dos significados decorrentes deve considerar esse fato. Ele avança no conceito de construir, ampliando-o no duplo significado dado por cultivar, oriundo das palavras latinas colere[3] e aedificare[4]. Ou seja, além de abrigar temporariamente, o significado do fenômeno do habitar possui uma dimensão capaz de expressar de maneira concreta o modo de ser dos habitantes, portanto.

 

Mas o significado desse fenômeno tem dimensões existenciais mais distintas e subjetivas tais como os desejos, as esperanças, as lembranças do passado, a imaginação e a fantasia humanas. Heidegger observa que a existência do homem tem lugar dentro da Cultura[5], onde ele habita em primeira instância e encontra nela os sentidos para suas experiências individuais.

 

Para  Rapoport [29] essa participação proporcionada pelo habitar na cultura é a razão original dos primeiros espaços exteriores que o homem construiu na história, o motivo original, gregário e público desses espaços.

 

O habitar e o ambiente não podem ser tratados através de métodos que separem os significados de meio físico, homem e cultura, dessa maneira o homem e o espaço são existencialmente conexos. O homem existe no espaço e sua existência  é espacial. Para se referir a esse conceito, Heidegger[28] lança mão da expressão composta “ser-no-mundo”, expressão que pretende referir-se a um fenômeno de unidade, inseparável e existencial., ou seja,  que o homem é uma totalidade com seu meio ambiente.

 

A partir do conceito de espaço de Merleau-Ponty [6][30],  o corpo humano é o sujeito do espaço, ou seja, o corpo é o referencial para todas as percepções e todas as ações através das coisas, no espaço. Isto significa que o corpo humano é aquilo que estabelece as conexões entre as coisas, pelo seu arranjo harmonioso. A afirmação de que o corpo é o sujeito do espaço permite entender o conceito de percepção espacial e por sua vez, compreender o espaço arquitetural como o espaço vivido do quotidiano. Para estabelecer as relações espaciais entre os objetos e suas características geométricas visando perceber o mundo que o rodeia, o sujeito do espaço, que é o corpo, tem de estar estabelecido e consciente deste mundo. Isso significa que toda percepção, ao mesmo tempo em que é capaz de estabelecer relações espaciais entre as formas, pressupõe um certo passado, uma anterioridade de conhecimento, que é a consciência do mundo, e que dá significados ao que se percebe.

 

1. Espaço vivido

 

O conceito de espaço vivido é constituído por uma coerente descrição dos sentimentos que geralmente são chamados sensações, na descrição dos lugares arquiteturais. A posse de um corpo para a existência do homem faz com que o espaço vivido seja dotado de significados determinados e inerentes à existência, tais como o sentido de acima e abaixo, frente e trás, direita e esquerda. Comparativamente ao significado do espaço matemático, no qual nenhum ponto ou direção é prioritário no sistema de coordenadas, no espaço vivido o ponto de referência invariável é o corpo do homem, e o eixo vertical e o plano horizontal são elementos também invariáveis nesse sistema de referência. Outro exemplo é a distância vivida, que é determinada por diversas circunstâncias favoráveis ou não do percurso percebido. Diferentemente da distância geométrica, que é uma invenção humana para mensurar o intervalo físico entre as coisas ou entre o homem e as coisas, a distância vivida é subjetiva e traduz a conexão entre o homem e o que as coisas significam para ele.

 

Desta forma, consideram-se eventos as atividades humanas que implicam em interações com as coisas ou outras pessoas. Portanto, atividades como a intelectual, que implica somente o pensar, não é considerada um evento, nesse conceito. O meio ambiente construído é um tipo de ambiente que sofreu alguma intervenção humana, diferenciando-se do meio ambiente natural. O espaço arquitetural é o lugar do meio ambiente construído no qual ocorrem os eventos do homem.

 

Para compreender esses conceitos relacionados, Merleau-Ponty [30] aponta que quando o homem age, através das coisas no espaço, ele está sendo estimulado por intenções cuja força procede de seus desejos. Desse modo, em suas atividades, o homem toma objetos, marcas e sinais, dando formas físicas às suas intenções e criando lugares significativos que são os lugares arquiteturais.

 

Nesse sentido, pode-se dizer que o espaço arquitetural é a espacialização dos desejos do homem. As necessidades do homem são procedentes da condição de satisfação biológica para a sobrevivência tais como a necessidade de alimento, de proteção contra o tempo, defesa contra animais predadores, etc.. As necessidades pertencem ao universo objetivo, enquanto os desejos são parte da dimensão intelectual e pertencem ao mundo subjetivo. No processo cultural, os limites entre desejos e necessidades não são completamente claros, pois desejos se transformam em necessidades e vice-versa, dependendo do contexto cultural. O exemplo mais claro dessa ambiguidade é relacionado ao alimento: alimentar-se é uma necessidade fundamental para o homem,  mas a maneira como ele se alimenta, quando e onde se alimenta e o modo como prepara o alimento são delimitações sociais e pertencem à instância dos desejos. As espacializações são as expressões, no espaço, das interações entre eventos (formas sociais) e as coisas (formas físicas). Portanto, as espacializações são o modo como se ordenam intencionalmente os objetos, os marcos e sinais, ou seja, dispostos de forma tal a expressar intenções. Um meio ambiente construído é o universo das espacializações  que são configuradas sob um cenário cultural da comunidade que nela habita. Todo espaço arquitetural que compõe um ambiente construído constitui-se de uma série de espacializações desde que elas dêem lugar a um conjunto de eventos dentro de uma cultura específica. Para reconhecer os espaços arquiteturais originados de espacializações da vida quotidiana de uma cultura, Malard relaciona o conceito de espacializações com o conceito de padrões culturais.

 

Numa mesma cultura, as atividades diárias são desenvolvidas de modo similar, ainda que por indivíduos diferentes. Estes eventos do quotidiano podem ser agrupados em categorias ou padrões que correspondem a uma forma arquitetural dentro daquela cultura. Dessa maneira, cada conjunto de eventos assim estruturados tem uma forma arquitetural correspondente que é comum na organização da cultura onde se insere. A cozinha, o quarto, a sala de estar são modos comuns de se referir às formas arquiteturais em nossa cultura. Decorre daí que o ambiente construído é culturalmente determinado e congruente com os tipos de organização social da cultura da qual emerge como concreção.

 

Há uma reciprocidade entre o ambiente construído e os padrões culturais. Os homens criam lugares para suas atividades dando significados a esses lugares; estes, por sua vez, influenciam a forma social. Esta influência recíproca entre o comportamento humano e o ambiente  é, conforme os conceitos anteriores, uma influência mútua e dialética, ou seja de forma interacional, ao contrário de abordagens deterministas que consideram o comportamento humano pautado por determinantes ambientais.

 

Para que os eventos aconteçam, eles necessitam, além do espaço, de um tempo disponível para ocorrer, ou seja, tempo para fazer alguma atividade, como trabalhar, dormir, almoçar, etc. O tempo que compõe os eventos não é o tempo físico, linear, quantificável e dividido numa sucessão de dias, horas e minutos independentes da ação humana, mas um tempo percebido, ou seja, um tempo social.

 

O tempo social refere-se às ordens sequenciais percebidas como duração das atividades humanas. Por exemplo, são tempos sociais as horas do dia, os anos de escola, as estações do ano, uma vez que em cada cultura os significados do tempo diário, do tempo de formação intelectual e das estações do ano são diferentes. A experiência do tempo vivido é variável de acordo com a forma social que o determina tal como calendário para as atividades coletivas, seus costumes, celebrações e rituais, ou quotidianamente, como uma agenda para a vida individual.

 

As formas sociais  definem o tempo social e a organização do tempo não só afeta mas também controla as espacializações, permitindo ou impedindo que elas aconteçam.  Rapoport [31] indica que os tempos e ritmos são distintos entre grupos de indivíduos e entre os indivíduos, podendo ser congruentes ou incongruentes de um grupo a outro ou de indivíduo a indivíduo. As pessoas podem estar separadas no tempo, como por exemplo, grupos com diferentes períodos de ocupação de um mesmo espaço, mas que nunca se encontram; ou podem estar em conflito no espaço por possuir ritmos temporais diferentes entre si, tal como quando no mesmo espaço estão pessoas que possuem um tempo determinado para dormir junto com outro grupo que utiliza o mesmo período de tempo para o lazer ruidoso, como a vida noturna.

 

Os conflitos culturais podem ser muitas vezes consequências dessa sobreposição de tempos sociais de grupos diferentes do que necessariamente da utilização do espaço apropriadamente. Rapoport [31] observa que os aspectos temporais e espaciais interagem e influenciam-se mutuamente e, portanto, as pessoas vivem no espaço-tempo. A expressão espaço-tempo  significa que se trata de dois elementos inseparáveis e têm a mesma importância nas relações sociais. De modo complementar, pode-se afirmar que o tempo é um componente essencial para as espacializações, uma vez que sem o tempo elas não ocorrem.

 

2. Espacializações

 

O homem espacializa seus desejos ou intenções através de atividades no espaço sendo o resultado desse processo denominado espacialização. Os espaços nos quais as espacializações tem lugar são denominados espaços vividos,  e essas espacializações têm como condição para existir a necessidade de um tempo vivido. Portanto os conceitos de tempo, espaço e eventos estão fortemente correlacionados e não podem ser considerados separadamente quando se trata de propor intervenções no meio ambiente construído. Rapoport [31] considera que essas intervenções devem considerar quatro elementos que se estruturam no ambiente construído, a saber, a organização espacial, a organização dos significados, a organização da comunicação e a organização do tempo.

 

No processo de espacialização, o homem confere significados ao espaço. O espaço arquitetural, portanto, é por sua própria natureza, significativo[7]. As intervenções no meio ambiente construído se processam por dois elementos que se organizam significativamente: o espaço e o tempo.

 

O processo de criação e modificação de lugares a partir de propósitos sociais é dinâmico e dialético. As formas arquiteturais são moldadas pela vivência do homem. Assim, o espaço arquitetural é a concreção do espaço existencial, como indica Norberg-Schulz [32] e podemos classificá-lo em três níveis, segundo Malard [33]. São eles os níveis simbólico, o funcional e o tecnológico.

 

O nível simbólico é aquele através do qual o espaço arquitetural é tomado como resultante das percepções humanas, das emoções, crenças, enfim, do universo dos  desejos humanos. Estes sentimentos são os propulsores para a ação criativa de espaços arquiteturais, impulsionando o homem a conformá-los de forma significativa. A questão que se coloca quando se trata do nível simbólico do espaço arquitetural é: “para quê é isto?”.

 

O nível funcional refere-se à organização das coisas no espaço, contemplando as atividades quotidianas e suas necessidades. Nesse nível, a indagação que pode ser feita é: “como se usa isto?”

 

O nível tecnológico é consequência de o espaço arquitetural ser uma construção, e portanto, abarcar o conhecimento técnico para ser construído, relacionando-se a todas as informações disponíveis naquele momento que são utilizadas para construir a edificação como um lugar significativo e funcional. Nesse nível, as questões que se colocam são da ordem do saber fazer, ou seja: “Como se faz isto?”. 

 

Quando se trata de estudar o espaço arquitetural, em sua concepção ou análise, um nível pode ser negligenciado ou até mesmo ignorado. Quando isso ocorre, alguns elementos que permitem compreendê-lo como totalidade são vistos como supérfluos ou tornados simples demais. No caso da criação ou intervenção em espaços arquiteturais do ambiente construído, a negligência de um dos níveis afeta a totalidade do espaço, provocando conflitos entre as pessoas e os objetos físicos. O equilíbrio dos três níveis ilustra o conceito de que o espaço arquitetural é uma totalidade, uma conjunção onde têm igual valor o nível simbólico, o funcional e o tecnológico.

 

A representação dos níveis ou dimensões do espaço arquitetural permite elucidar algumas questões anteriores acerca desta pesquisa e seu objeto que é o espaço da rua. O conceito de ambiente construído desenvolvido por Malard [33] já evidencia a possibilidade de se tratar o espaço urbano utilizando os mesmos princípios e idéias comuns à atividade arquitetônica, e isso importa na medida em que se procura descrever e analisar o espaço arquitetural da rua  a partir da visão do arquiteto, de modo compreensível e operacional.

 

O problema da inadequação do espaço arquitetural pode ser compreendido quando o espaço não satisfaz o usuário, negligenciando-se uma ou mais de suas dimensões, seja a técnica, a funcional ou a simbólica. Considerando que essas dimensões do espaço arquitetural podem se constituir num referencial teórico que permite tratar com as contribuições das pesquisas à área de Arquitetura, torna-se possível compreender porquê as ênfases à aparência do espaço urbano têm se constituído em linhas de pesquisas mais comuns e que acabaram por estar mais próximas da visão do arquiteto.

 

Como foi visto, a Arquitetura é fruída em sua dimensão artística ou simbólica, usufruída na sua dimensão utilitária e construída na sua dimensão técnica. Malard nos diz que a aparência dos espaços arquiteturais nunca é a aparência da totalidade do objeto. Ela é a aparência de apenas uma de suas dimensões, que é a dimensão simbólica ou artística. Mas Arquitetura não é só arte e suas outras dimensões não são ilusórias, pois não são artísticas e nem se revelam como aparências: suas verdades não estão na ilusão de serem verdades, mas revelam-se nas suas relações com o sujeito: no seu usufruto e na sua construção.

 

A ênfase nos aspectos simbólicos no estudo, pesquisa e teoria do espaço arquitetural provocou um “mito das aparências“[34], diante dos avanços tecnológicos que virtualmente permitem que tudo seja possível de se construir e diante da diversidade de abordagens que contemplam prioritariamente os aspectos simbólicos do ambiente construído. Esse mito está em considerar o espaço arquitetural como jogo de aparências e tomar as teorias que o estudam enfatizando percepção desses aspectos aparentes como uma forma literária relacionada à arquitetura. Essa argumentação indica a necessidade de pesquisas que busquem tratar o espaço arquitetural de forma equilibrada nos seus níveis, recebendo as contribuições de diversos campos de conhecimento, mas discernindo quais delas permitem totalizar a compreensão da relação do homem e seu meio ambiente sobretudo de modo orientado ao trabalho do arquiteto.

 

Rapoport [35] expõe consequências semelhantes quando trata do significado excessivamente amplo da “percepção” no meio literário. Em razão a isso, ele estuda as teorias da percepção ambiental de modo a elucidar quais aspectos da Geografia, da Psicologia e Antropologia contribuem efetivamente.

 

O estudo dos níveis ou dimensões do espaço arquitetural frequentemente se inicia com as questões sobre o seu uso e sua condição técnica. As ciências explanatórias indagam “como se usa” e “como pode ser feito” o espaço arquitetural, o que, para uma sequência lógica significa dar prioridade às questões funcionais e técnicas da totalidade que é o espaço arquitetural. Será visto, entretanto, que um enfoque fenomenológico, ao contrário, não poderá discutir os demais níveis sem antes indagar “o que é” o espaço arquitetural, ou seja, quais são seus atributos.

 

3. Espaço arquitetural

 

O espaço arquitetural é a concreção do espaço existencial, o lugar onde  interagem  os eventos (formas sociais) e os objetos (formas físicas) sendo possível agora formular a hipótese de que quando as formas físicas não correspondem às formas sociais ocorrem conflitos. Esses conflitos podem ser relativos à inadequação ou ausência de elementos físicos que interferem nos eventos, e assim, o atributo do espaço arquitetural que passa a interessar a essa pesquisa concerne à adequação entre formas sociais e formas físicas.

 

O termo “inabitável” sugere uma situação extrema de conflitos devido à ausência de formas físicas capazes de dar suporte às formas sociais. Esse termo se aplica, de modo geral, a certos ambientes naturais onde o homem não consegue viver de maneira gregária, com uma certa estabilidade. O oposto a esse termo é “habitável”, e sugere ambientes construídos onde, a despeito da ausência de alguns elementos físicos necessários para as formas sociais, o homem consegue viver. Desse modo, a habitabilidade refere-se aos atributos de um fenômeno que é a interação do homem com seu meio, compreendendo desde estados extremos como os espaços inabitáveis  até a sua realização perfeitamente adequada em espaços habitáveis. A habitabilidade pode se dar em ambientes onde nem todos os elementos físicos necessários às formas sociais estejam presentes ou sejam adequados, ou seja, o estudo da habitabilidade tem valor quando revela os conflitos entre o homem e seu meio ambiente, esclarecendo esses conflitos. Então os espaços da rua são perfeitamente passíveis de serem estudados sob o ponto de vista da habitabilidade.

 

Observando que “a espacialidade do homem tomada em seu conjunto se compreende como habitar” [36] a casa é o lugar onde o habitar se realiza e a habitabilidade da casa delineia um horizonte ideal para o qual se dirigem todos os movimentos que a propõem como o lugar de perfeita adequação entre forma física e a vida do humana. Ela está no extremo oposto do significado de “inabitável”, e parece ser razoável estudar a habitabilidade a partir da casa por esse motivo.

 

4. Equipamentos e Conflitos

 

Segundo Heidegger [28] os objetos do mundo podem ser de dois tipos: aqueles que a filosofia tradicionalmente chama de objetos materiais  e os objetos utilitários.

 

Os objetos materiais são aqueles acerca dos quais não se obtêm respostas significativas quando se pergunta: “para o que é isso?” Assim, se a pergunta for, por exemplo, “para o que é uma pedra?“, percebe-se que a indagação é inaplicável posto que a resposta será “a pedra não é para nada, ela é só uma pedra.”.  Malard utiliza a expressão inglesa “present-at-hand” como tradução da idéia de Heidegger para se referir aos objetos materiais.

 

Os objetos utilitários, por sua fez, suportam aquela indagação, não se podendo refutá-la. Se alguém indaga “para que é um martelo“, a resposta não poderá ser “o martelo não é para nada“, mas demonstrará que se trata de um equipamento: “o martelo é para martelar“. Malard usa expressão “ready-to-hand” para se referir aos objetos utilitários.

 

Desse modo, os objetos materiais são aqueles que se encontram na natureza em seu estado natural possuindo propriedades específicas que indicam o que eles são. Somente quando algum trabalho humano é aplicado sobre eles, então eles deixam de ser apenas o que são para ser algo, ou seja, deixam de possuir características e recebem atributos. Uma cadeira, por exemplo, é feita para sentar, mas a madeira da qual é feita é apenas ela mesma, não é para nada. A madeira é um objeto natural e a cadeira um objeto utilitário.

 

Os objetos utilitários têm atributos e qualidades além das propriedades da matéria natural de que são feitos. Eles são para fazer algo, possuindo um significado que só é válido no contexto das atividades que o envolvem e no contexto cultural onde são utilizados. Portanto, a qualidade principal de um equipamento, um objeto utilitário, é aquela para o qual ele foi forjado. Nesse sentido falamos da “equipamentabilidade” dos objetos utilitários. A “equipamentabilidade” de uma cadeira por exemplo é dada por sua capacidade de “ser para sentar-se“.

 

O ambiente construído é algum tipo de ambiente que sofreu intervenção do trabalho humano para ser o lugar dos eventos que relacionam formas físicas e formas sociais dentro de uma cultura. Os eventos e espaço físico se relacionam no espaço da existência, do qual o espaço arquitetural é concreção. Então, o espaço arquitetural pode ser entendido fenomenológicamente  como uma totalidade do equipamento do habitar. Em outras palavras, a “equipamentabilidade” do espaço arquitetural é definida em termos da habitabilidade.

 

Como objeto material, o espaço arquitetural pode ser descrito em termos de suas propriedades físicas e químicas, mas como objeto utilitário ele só pode ser entendido em termos predicativos,  de suas qualidades, ou seja, em termos de sua habitabilidade. Assim, o espaço arquitetural é para habitar. Se a rua é tomada como um espaço arquitetural, supõe-se que o predicado do habitar pode ser aplicado à questão: “para o quê é a rua?“. Como se demonstrou anteriormente, a habitabilidade se realiza na casa e, assim, o estudo da casa como espaço do habitar passa a ser complementar para o entendimento da habitabilidade do espaço da rua.

 

Esse último argumento tem apoio no pensamento de Levinas [37] segundo o qual a casa serviria para a habitação como o martelo para pregar um prego. Ele indica que “podemos interpretar a habitação como a utilização de um utensílio entre utensílios“. A casa pertence ao conjunto das coisas necessárias à vida do homem e serve para o abrigar do tempo, para escondê-lo dos inimigos e dos importunos. No sistema de finalidades em que a vida humana se sustenta, a casa ocupa um lugar privilegiado.

 

Mas, de modo nenhum ela é o lugar de um fim último, e se a casa se pode procurar como algo objetivo, se a casa pode ser objeto de fruição, ela não manifesta sua originalidade por essa possibilidade de fruição. O papel privilegiado da casa não consiste em ser o fim da atividade humana, mas em ser a sua condição e, nesse sentido, o seu começo. “O recolhimento necessário para que a natureza possa ser representada e trabalhada, para que se manifeste apenas como mundo, realiza-se como casa.” [37 : 135 ] Em outras palavras, o homem mantém-se no mundo como vindo para ele a partir de um domínio privado, vindo de sua casa, para onde pode se retirar a qualquer momento. A expressão ser-no-mundo, utilizada na teoria de Malard, não significa que o homem foi brutalmente arrojado e abandonado no mundo, mas só pode ser-no-mundo porque, simultaneamente fora e dentro, vai para fora a partir de uma intimidade. Por outro lado, a intimidade abre-se dentro de uma casa, que se situa nesse fora. A moradia como edifício pertence ao mundo dos objetos, mas toda a consideração dos objetos do mundo, segundo Levinas, se faz a partir da moradia.

 

Do que foi dito, então, significa que considerar o espaço arquitetural como um equipamento para habitar significa compreender que ele é composto por diversos equipamentos, e estes, por sua vez, de outros componentes. A “equipamentabilidade” do espaço arquitetural só pode ser revelada quando ele é tomado, observado e descrito em seu uso. Segundo Malard, só durante o uso é que se pode observar se o equipamento é apropriado verdadeiramente ou não. Quando um equipamento ou um de seus componentes é inadequado ou está ausente, a atividade que implica seu uso não pode ser desenvolvida de modo adequado. Essa inadequação, situação de não desenvolvimento da atividade, é um conflito revelador da essência do próprio equipamento. Ou seja, concordando que a  habitação é a utilização de um utensílio entre utensílios, pode-se considerar que a totalidade de um equipamento é dada por todos seus componentes, que também são equipamentos. Segundo ela, a “equipamentabilidade” de um componente possibilita observar a “equipamentabilidade” da totalidade do equipamento. A “equipamentabilidade” do espaço arquitetural está relacionada a todos os seus componentes. O espaço arquitetural, portanto, pode ser estudado através dos elementos ausentes, danificados, ou inadequados que compõem a totalidade do equipamento, revelando a sua essência, que é ser habitação. Essa totalidade pode ser decomposta em seus componentes, que, por sua vez, podem ser considerados como novas totalidades e decompostas até que não seja mais possível fazê-lo, porque ao final da decomposição já não tratamos mais com matéria utilitária e sim com a matéria natural.  

 

De acordo com Heidegger [38] em seu livro “Poetry, Language Thought“, os edifícios que não são locais específicos de moradia estão, contudo, “no domínio de nossa moradia“. Como foi argumentado anteriormente, embora os locais para se trabalhar não sejam lugares de moradia permanente das pessoas, eles são locais de moradia transitória, durante a jornada de trabalho. Nesse exemplo, os edifícios são os meios que permitem aos trabalhadores realizarem seu objetivo de trabalhar. Habitar seria então o objetivo maior de todos os edifícios. Por extensão, como foi visto, considerando a totalidade do ambiente construído, muito embora a rua não seja o espaço da moradia, ela possui habitabilidade como aspecto essencial, pelo simples fato de ser um dos lugares dos eventos da vida quotidiana.

 

Para permitir o desenvolvimento de atividades diárias, os lugares devem possuir todos seus elementos como equipamentos adequados e em estado funcional. Mas a funcionalidade não é o único atributo da habitabilidade. A ênfase na funcionalidade dos espaços arquiteturais parece ter originado o equívoco dos modernistas em consagrar à dimensão funcional todo seu empenho, reduzindo as funções dos espaços arquiteturais apenas às necessidades dos seus usuários, negligenciando as outras dimensões do espaço arquitetural. O enunciado de Le Corbusier [39] “a casa é uma máquina de morar“, feito em 1924, foi reduzido, com passar do tempo, à interpretação de que a casa é uma máquina para abrigar um ser previsível, movido apenas por suas necessidades, sem desejos nenhum.

 

Se o habitar é uma característica fundamental da vida humana, os lugares onde o homem habita devem permitir que o relacionamento entre os elementos do espaço e as pessoas seja uma experiência plena. A habitabilidade é a qualidade essencial dos espaços onde o homem vive. Quando algum aspecto da habitabilidade é prejudicado, a experiência de habitar é negativamente afetada. O ambiente urbano considerado como espaço arquitetural possui habitabilidade e o estudo da situação de conflito entre moradores e o espaço da rua pode revelar aqueles elementos que estão ausentes ou são inadequados, uma vez que os conflitos referem-se ao desajuste entre formas sociais e as formas físicas.

 

O método de investigar as situações de conflito revela-se útil para identificar os elementos que os provocam, permitindo que sejam estudadas as soluções para a melhoria de qualidade do ambiente urbano. Porém, a identificação de conflitos só é possível a partir da compreensão das dimensões do fenômeno do habitar, pois elas  referem-se ao modo como as pessoas experimentam o espaço e esclarecem de que maneira um elemento espacial afeta suas vidas diárias. Uma intervenção ou modificação no espaço da rua pode não ser uma solução de conflito se não atua objetivamente sobre o elemento inadequado ou se não propõe o elemento que está ausente. O estudo dos fenômenos relacionados à habitabilidade permitirá compreender a importância dos elementos espaciais na busca de solução dos conflitos.

 

5. Qualidades do Lugar

 

Foi visto que à pergunta “para o que é uma casa?”, a resposta será: “a casa é para morar”. A rua não é para morar, mas a rua possui determinadas relações com a casa que a um só tempo a definem como exterioridade e compõem um ambiente urbano, um “fora” dentro do qual a casa está situada. Nesta pesquisa, portanto, a habitabilidade da casa deve ser estudada para que se entenda quais de suas características se relacionam com a rua e quais qualidades são específicas da rua como um espaço habitável.    

 

A habitabilidade da casa compreende três grupos de qualidades:

– aquelas relativas à dimensão funcional da habitação, responsáveis por garantir   proteção contra condições adversas como a chuva, calor excessivo, etc.;

– aquelas relativas à dimensão simbólica, que garantem que o lugar seja agradável, seguro e confortável, tais como os atributos formais, acabamentos, aspectos decorativos, etc.;

– aquelas associadas aos aspectos funcionais da habitação, que viabilizam o uso dos espaços durante as atividades rotineiras, tais como circulações, posição de objetos móveis e máquinas, elementos para manutenção, etc..

 

A classificação da qualidade do habitar em três grupos não significa que um aspecto associado a um grupo não possa pertencer a outro. Essas qualidades são inter-relacionadas e conexas, e o estudo dos aspectos do espaço arquitetural a elas associados deve considerar esse fato. O relacionamento entre as dimensões fenomenológicas da moradia e a habitabilidade seria então[40]:

 

A primeira dimensão da moradia é a interioridade, a noção de interior e exterior, dentro e fora. Esta dimensão está relacionada ao estabelecimento de fronteiras que diferenciam e qualificam o espaço. A diferenciação entre interior e exterior se dá pela escolha, definição, demarcação e construção de limites. A interioridade transforma o espaço em lugar para atividades humanas.

 

Ao criar espaços arquiteturais, o homem está diferenciando e qualificando espaços para o desenvolver suas atividades e dessa forma, todos os ambientes arquitetônicos são submetidos à esse processo de demarcação de território interior e seu complementar, o exterior. Esse processo de demarcação também significa o estabelecimento da distinção entre o que é privado e o que é público, entre o que é sagrado e o que é profano [41], sendo o domínio do sagrado o interior, o lugar protegido, oculto, seguro, e sendo o profano o exterior, o lugar desprotegido, exposto, inseguro. Nesse processo, o homem “cria raízes” e estabelece conexões existenciais. A dimensão fenomenológica de estabelecimento da interioridade e da exterioridade compreende mais diretamente o fenômeno de territorialidade, relacionando-se também com os fenômenos de identidade e privacidade de forma indireta como será visto.         

 

A segunda  dimensão da habitação é a visibilidade. O estabelecimento de um interior, simultaneamente cria um exterior dentro do qual o interior se localiza. À esse exterior a interioridade se abre, mostra-se mais, ou menos, indicando que a visibilidade é o controle da sua exposição. As pessoas, seus objetos e suas atividades, enfim, sua vida diária, necessitam ser expor, ou não, à visibilidade, conforme o estabelecimento social assim o determine. O ocultamento corresponde à falta de visibilidade do interior e significa a intimidade. Os fenômenos existenciais relacionados à essa dimensão são a privacidade, no que a visibilidade oculta, e a identidade, no que é tornado visível, naquilo que se mostra e como é mostrado.

 

A terceira dimensão da habitação é a apropriação. Tornar um lugar próprio e dele tomar posse é um mecanismo de ligação do sujeito com o mundo, que se constitui em ordenar as coisas no espaço para estabelecer as atividades quotidianas. A apropriação supõe a criação e o cuidado com os lugares, significando esse cuidado o cultivo e a preservação de suas características, seu passado, seu presente e suas antecipações como futuro. Segundo Fischer [42] a apropriação compreende as formas de interação entre indivíduos e ambientes que expressam a afirmação do ser sobre os lugares, através de uma utilização particular do espaço. A apropriação está relacionada ao fenômeno da ambiência que é a necessidade de se estar confortável em termos da adequação da posição de móveis e utensílios, da temperatura, da ventilação e da luminosidade, etc..

 

A moradia, por suas dimensões fenomenológicas, é uma característica fundamental para o homem estar-no-mundo, empregando a conjunção de Heidegger. Os edifícios são os lugares da moradia e a casa é o lugar do morar. Os fenômenos revelados no processo de morar são a territorialidade, a privacidade, a identidade e a ambiência.  A casa é o objeto mediador da moradia, ou seja, ela é o objeto no qual o homem espacializa o fenômeno constitutivo de estar-em-casa. Os elementos que compõem o objeto casa têm de ter qualidades que permitam a mediação do morar, fazendo com que as formas de morar tenham lugar. Quando qualquer destes elementos falta ou está inadequado, surgem conflitos que interferem no fenômeno de morar.

 

O diagrama da Figura 2 resume as relações entre as dimensões fenomenológicas da habitabilidade e os fenômenos existenciais implicados.

 

A partir dos conceitos de territorialidade, privacidade, identidade e ambiência, é possível passar ao procedimento de “leituras espaciais”, à partir de observações diretas e registros gráficos e entrevistas com os usuários. Estas leituras evidenciam os elementos arquitetônicos que estão em conflito com os moradores e afetam os fenômenos existenciais descritos.

 

6. Territorialidade

 

O conceito de territorialidade foi primeiramente descrito pelo inglês H. E. Howard no seu livro “Territory in Bird Life“, publicado em 1920. A partir de então, o território foi definido por Ardrey (Apud Malard:1992.) como uma área do espaço, aquático, terrestre ou aéreo na qual um animal ou grupos de animais se protegem com a finalidade de se preservar. Dessa maneira, todo animal que defende um espaço particular é chamado de animal territorial, e as ações que ocorrem para a defesa de sua área são denominadas comportamentos territoriais.

 

Esse fenômeno tem sido estudado por vários pesquisadores que buscam explicar como operam os mecanismos dos comportamentos territoriais tanto em espécies de animais quanto no homem. Entretanto, a aplicação do conceito de comportamento territorial para o homem é controversa, pois a territorialidade humana coloca em dúvida se seu recurso é um mecanismo ou se há outras dimensões a serem consideradas nesse fenômeno.

 

Os trabalhos de análise social sobre a territorialidade do homem se iniciaram após a pesquisa de Howard, que descreveu o fenômeno especificamente para animais. De acordo com Malmberg . os pioneiros no estudo desse fenômeno parecem ter sido R.E. Park, E.W. Burgess, R.D. Mckenzie  no livro “The City of Chicago“, de 1925.  Nesse trabalho eles analisaram sociologicamente a territorialidade no setor urbano fabril de Chicago, observando que os territórios poderiam ser definidos por ruas ou trechos de rua, onde certos grupos raramente ultrapassavam seus limites em direção à outros territórios.

 

Irwin Altman [43] em seu livro “The Environment and Culture“, elaboraram uma extensa revisão da literatura sobre o comportamento territorial do homem. Ele dedica dois capítulos de seu livro a esse tema, e observando várias definições de sociólogos, antropólogos, psicólogos e arquitetos, chega aos seguintes pontos comuns acerca da territorialidade em suas abordagens:

 

ela é uma referência consistente para os lugares ou áreas geográficas;

presume-se que o comportamento territorial sirva às necessidades e motivos humanos;

há, no processo de territorialidade, a idéia de apropriação e personalização do lugar a partir de algum dispositivo capaz de gerar marcos;

a qualidade territorial é dada por condições que permitam o domínio do território por indivíduos ou grupos.

 

Para Altman o comportamento territorial é dado por mecanismos e regras de controle que envolvem a personalização ou a marcação do espaço ou objeto, possuindo a capacidade de uma comunicação aos demais grupos de que ele é posse de alguém ou algum grupo, isto é, com a evidência da expressão de que ele é próprio. A personalização e a posse são dispositivos para regular as interações sociais e ajudar a satisfazer vários motivos sociais e físicos do proprietário ou proprietários. Os mecanismos de defesa podem ser uma resposta às ações que ocorrem algumas vezes quando os limites territoriais são violados.

 

Na definição de territorialidade de Altman[43], dois mecanismos são evidenciados: personalização e defesa. Contudo, Altman reconhece que o fenômeno de personalização é uma constante, enquanto a defesa é variável, dependendo do fato de ocorrer violações do território.

 

A personalização parece ser altamente necessária à identidade do grupo que se aloja em um território, e está relacionada fortemente com a idéia de posse. Os mecanismos que definem a personalização empregam vários elementos, dependendo do que esteja sendo personalizado nesse território. A posse, em decorrência, pode ser expressa como sensação expressa de propriedade de objetos, espaços e até mesmo de idéias. Esses elementos expressivos agem como marcas ou símbolos  e podem incidir não só em pontos do território, para sua delimitação, mas podem referir-se às atitudes que se devem ter dentro dele , aos estilos de vida que ali são apropriados. Isso quer dizer que as marcas do território podem comunicar, por exemplo, a posição que o proprietário ocupa numa hierarquia social, ou simplesmente o desejo dela.

 

Os mecanismos de defesa territorial para o homem não equivalem aos dos animais, pois os homens fazem uso de dimensões simbólicas. A manutenção de uma integridade territorial é importante somente quando assegura a propriedade e a identidade individual, sendo estas parte das delimitações sociais. Portanto, as marcas do território desempenham um importante papel de comunicação. As defesas territoriais para o homem referem-se a aspectos subjetivos relativos à proteção contra a invasão física ou visual. A intrusão física ocorre quando o território é tomado como um corte, uma travessia para outro lugar. A intrusão visual não implica na presença física do invasor, mas na exposição visual cujo controle foi quebrado. Portanto, há duas características dos mecanismos de defesa: eles podem funcionar como barreiras físicas, paredes, cercas, ou então podem ser simples obstáculos visuais que asseguram a privacidade no interior do território. Além disso, as marcas territoriais comunicam a personalização do território, dependendo de como se dá sua posse. As marcas territoriais permitem classificar os territórios em três categorias, segundo Altmam[43]:

 

Os territórios primários, que são possuídos e utilizados exclusivamente por indivíduos ou grupos de indivíduos e cujo controle se dá por ações relativamente permanentes. Correspondem ao cerne da vida diária dos indivíduos. Cozinhas, quartos, casas são territórios primários para seus moradores;

Os territórios secundários, que são menos exclusivos e funcionam como uma transição entre o domínio privado e o público. Correspondem às imediações de um território primário. Essa característica semi-pública  ser razão para diversos conflitos sociais que neles ocorrem, uma vez que muitas vezes não se tem uma clareza das regras para relacionar o domínio individual e o público.

Os territórios públicos, que são abertos à todos, ao menos oficialmente. Em termos urbanos, correspondem ao espaço público.

 

Cada tipo de território é definido por marcas que auxiliam a definição de bordas e limites de grupos individuais ou grupos, prevenindo contra a violação física ou visual e permitindo o controle das interações sociais para assegurar a privacidade. As paredes, cercas, cortinas, as mobílias, as cores, os quadros de aviso e as tabuletas são os elementos mais comuns destas marcas territoriais. É preciso observar que a manutenção da segurança territorial se relaciona com a visibilidade do seu interior, uma vez que essa visibilidade diz respeito a mecanismos que permitem detectar a presença e a posição de intrusos no seu interior.

 

7. Privacidade

 

Por expor essencialmente os fenômenos relacionados com a privacidade, vários teóricos consideram o conceito de Altman [43] como básico: privacidade é o controle seletivo do acesso ao indivíduo ou a um grupo de indivíduos, ou seja, um processo de controle dos eventos interpessoais, ou seja, permite usufruir da interação social com condições de garantir ou negar acesso às relações estabelecidas. Se o ambiente não permite o controle da privacidade, os indivíduos passam a exercê-lo através de ajustes pessoais, e estes muitas vezes podem se constituir em desgastes físicos e psicológicos. Desse modo, Altman [43] discrimina os mecanismos utilizados para implementar níveis desejáveis de privacidade como:

 

comportamento espacial, relativo à forma da relação com o espaço e o ambiente;

comportamento verbal;

comportamento segundo as normas culturais e costumes locais.

 

Willis (apud Malard Op. Cit.) conclui que a necessidade da privacidade parece relacionada à necessidade psicológica de se obter um posição social. Nesse sentido, o direito de poder ocultar certas atividades, objetos e espaços da visibilidade e interferência dos outros parece ser mais importante em contextos onde coexistem diferenças sociais, classes ou grupos, nos quais padrões materiais e comportamentos diferentes respondem pelo controle das relações.

 

Um dos primeiros estudos em arquitetura sobre a privacidade procedem de Chermayeff [44] que estudou as implicações da necessidade de privacidade de modo sistemático. Talvez por tomar em consideração o contexto das cidades americanas, o trabalho de Chermayeff distinguia enfaticamente dois elementos responsáveis pela falta de privacidade nas cidades modernas: o tráfego de automóveis e o ruído. Neste estudo, a sistematização das questões relacionadas à privacidade da casa foram tratadas como questões de modelos de comportamento, sob o ponto de vista do isolamento acústico e da manutenção da intimidade à partir dos domínios individuais definidos. O resultado falhou por retroceder à condições ideais inexistentes e ser orientado à um contexto social muito definido como as casas da classe média americanas.

 

Segundo Rapoport [35] a privacidade é uma espacialidade orientada, e na maior parte dos contextos culturais a implantação das casas nos terrenos demonstra que a parte frontal é tratada de modo a comunicar uma imagem formalizada para o mundo exterior, enquanto as fachadas posteriores são modeladas para garantir privacidade e informalidade. Definindo privacidade como o controle das relações indesejáveis, Rapoport classifica os vários mecanismos relacionados com elementos espaciais que controlam essa interação. Destes mecanismos, destaca-se a separação espacial através de elementos e dispositivos físicos como paredes, portas, cortinas, biombos, como os mais relacionados ao projeto.

 

A privacidade é um conceito que se refere a um fenômeno que se modifica, de acordo com o tempo vivido e os ciclos de vida individuais, através das regras sociais que também se alteram ao longo do tempo.   

 

8. Identidade

 

Identidade pode ser definida como todas as qualidades, crenças e idéias que fazem o alguém se sentir diferenciado como individualidade e ao mesmo tempo membro e participante de um grupo particular. No nível individual, a identidade promove a diferenciação e distinção individual. No nível de um grupo, a identidade fornece elementos para que o indivíduo se integre aos padrões de um grupo.

 

A identidade envolve ainda dois domínios: o individual, necessário à preservação do ser, e o público, que permite a comunicação dentro de determinados padrões. A dualidade desse processo de preservar e comunicar identidade envolve elementos ambientais ou não, como por exemplo a identidade de lugares ou de um tipo de linguagem específica de um grupo. Ao implicar elementos espaciais, a identidade desempenha um papel importante reduzindo ou ampliando o senso de identidade. Dois grupos gerais de conflitos podem ser observados e isso permite a aproximação do conceito de identidade. O primeiro deles corresponde aos conflitos com elementos espaciais que são inerentes à concepção total da forma do espaço arquitetura, ou seja, sua configuração e organização espacial, incluindo-se os aspectos da forma e a disposição de elementos do espaço arquitetural. O segundo grupo refere-se aos elementos que não fazem parte da configuração geral do espaço, mas conferem distinção à ele, tal como a forma e as características físicas dos elementos, a aparência e o acabamento de seus materiais. O aspecto da identidade compreendido pela organização espacial é descrito por Rapoport [35] como o significado proporcionado pelo arranjos topológicos de elementos espaciais. Assim, por exemplo, o significado proporcionado pelo arranjo das casas em torno de um espaço central como uma praça ou um terreno comum é  diferente daquele onde as casas se organizam frontalmente a um eixo como a rua. Ou seja, a identidade, compreendendo os arranjos espaciais, procede das relações percebidas de proximidade e distância dos elementos, continuidade e descontinuidade, fechamento ou abertura, enfim, relações onde interessam as posições dos elementos relativamente uns aos outros. As representações dos arranjos podem ser de exemplos diversos, desde a “Roma quadrata” citada por Norberg-Schulz [45], do Império Romano, onde a organização das ruas, áreas, fontes e templos representava uma ordem de criação do cosmos, até em culturas primitivas no Brasil, descritas por Levi-Strauss (Apud Malard Op. Cit.). Estudando as tribos indígenas Bororos do Brasil, Levis-Strauss observou a sua perda de identidade cultural a partir da destruição da organização espacial do seu lugar. Modificando a posição de ocas e espaços exteriores, missionários colonizadores portugueses destruíram um dos elementos simbólicos de seu paganismo, uma vez que o arranjo era percebido como um princípio cosmológico. Estando, assim, sem identidade, os índios podiam assumir a identidade de escravos dos portugueses. Nesses dois exemplos, fica claro que o arranjo espacial é capaz de manter uma coesão social representada no espaço e que confere identidade, sendo eficiente para comunicar aos seus membros do grupo o estabelecimento social a que dá suporte como identidade coletiva.

 

Outro teórico que se ocupou com a identidade social da moradia foi Clare Cooper (Apud Malard Op. Cit.). Partindo da teoria de Jung sobre o inconsciente coletivo, ela percebe que determinados padrões psicológicos são constantes e podem ser tomados como uma memória desse inconsciente, na forma de arquétipos ou situações espaciais arquetípicas. A casa seria um arquétipo em si mesma. É através do inconsciente coletivo que as pessoas estão em contato com um arcaico e basicamente similar arquétipo denominado “self” e com o símbolo para aquele arquétipo que mudou muito pouco no tempo e no espaço, a casa.  Se a especulação de Cooper tem valor, a casa seria a principal conexão entre o homem e sua identidade como ser humano.

 

A manutenção dos locais e das coisas expressa a necessidade de preservar a identidade. Limpar, arrumar, pintar, reformar ou ampliar constituem atividades que revelam preocupação com a identidade.  Portanto, o fenômeno de preservação da identidade apresenta-se relacionado com o que deve ser mostrado, com a imagem que se quer transmitir para expressar os valores do indivíduo ou do grupo. A importância dessas imagens está no fato de que elas sejam aquilo que as pessoas vêem e recordam, incluindo processos de estimulação, percepção, consciência e memória, permitindo atribuir significados aos espaços e elementos que são comuns na linguagem de determinado grupo. 

 

9. Ambiência

 

Basicamente a ambiência é uma qualidade que relacionada ao conjunto de fatores necessários que tornam um ambiente agradável. A ambiência possui  uma dimensão subjetiva, relacionada à cultura ( materiais, cores, formas e texturas) e outra relativa aos aspectos fisiológicos e psicológicos relacionados ao conforto. A dimensão subjetiva pode ser observada na relação das pessoas com os objetos funcionais. A objetiva se encontra nas condições de conforto ambiental, incluindo aspectos das condições térmicas, lumínicas, acústicas, antropométricas, etc.. segundo Malard a ambiência é inerente à interioridade dos ambientes, ou seja, ela é qualidade própria do interior da casa uma vez que esse interior é diferenciado e qualificado. Bollnow [36] utiliza o conceito de “stimmung” que quer dizer humor, estado de ânimo ou disposição de espírito. Essa disposição para as coisas no homem não é algo subjetivo “no” homem, nem algo subjetivo, “fora” dele, mas procede de sua relação com seu ambiente observados como totalidade. O conceito é derivado de Heidegger[28], e Bollnow propõe que se considere a disposição do homem num lugar determinado significando sua disponibilidade para interagir e manter aquele lugar como ambiente humano.

 

No que se refere aos aspectos objetivos da ambiência, pesquisas de diversas áreas indicam quadros referenciais para os padrões de conforto ambiental, constituídos a partir de pesquisas comportamentais. Como foi observado anteriormente, a questão de se sentir confortável deve tratar das duas dimensões do fenômeno, para não correr o risco de atribuir padrões de conforto fora do contexto cultural.

 

Até aqui foram descritos os fenômenos existenciais relacionados ao habitar da casa. A habitabilidade foi estudada como uma qualidade que se refere às dimensões fenomenológicas do habitar, como a interioridade, a visibilidade, e a apropriação. As qualidades relacionadas a essas dimensões são a territorialidade, a privacidade, a identidade e a ambiência, qualidades que dizem respeito ao modo como os homens interagem com os elementos arquitetônicos, dando forma e qualificando o espaço da casa.

 

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Notas:
 

[1] Segundo o autor essas noções são significantes de acordo com o contexto onde são empregadas no processo de comunicação. Mantêm o significado englobando no eixo paradigmático novas categorias ou novo plano de segmentação. O eixo paradigmático é um conceito abstrato do estruturalismo e representa um segmento que une um significado ao seu oposto complementar para que ambos alcancem significação. DaMatta percebe que rua e casa  são significantes cuja realização de significados é dinâmica e relacionada a planos de significação diversos, mas finitos.

 

[2] Em alemão:  “Win wohnen nicht, weil wir gebaut haben, sodern wir bauen und haben gebaut, insofern wir wohnen, d.h. als die wohnenden sind.”

[3] Construir, no sentido de cuidar, de manter, cultivar, significando a cultura.

[4] Construir, no sentido de erigir, prover um abrigo físico.

[5]  A palavra Cultura é entendida aqui como condição da existência humana e permite que as dimensões existenciais do homem sejam compartilhadas na medida em que se tornem experiências comuns dentro de uma coletividade, fazendo com que ele ultrapasse sua condição individual e participe do mundo mais amplo e gregário.

[6] Merleau-Ponty considera o espaço só acessível a partir da experiência, ou seja, da vivência no próprio espaço, sendo impossível separar uma ação do espaço a ela conexo.

 

[7] Desse modo, falar da organização de significados do meio construído é o mesmo que falar da sua comunicação, uma vez que só em contextos coerentes essa comunicação é possível.